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Meio ambiente e saúde

A relação sensível entre o meio ambiente e a saúde humana tem se tornado cada vez mais evidente, transformando-se em uma preocupação global. Portanto, o objetivo ao estudar essa relação é analisar os efeitos de fatores climáticos, mudanças climáticas e ambientais sobre o bem-estar da população.

Navio de carga no porto

As mudanças climáticas é um tema que está presente nos debate econômicos atuais, relacionando-se com aspectos como o crescimento econômico sustentável, questões ligadas a saúde, produção agrícola, biodiversidade dos ecossistemas, entre outros. Entre estes, destaca-se que a saúde humana tende a ser uma das áreas que mais sofrerão com efeitos dessas mudanças climáticas.

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Devido ao alto número de problemas de saúde relacionados a causas ambientais, é fundamental compreender profundamente as relações entre saúde/doenças para formular políticas públicas e atender a todas as demandas. As evidências geradas permitirão o desenvolvimento de modelos de avaliação de riscos e de políticas focadas no bem-estar da população. Assim, o objetivo geral do estudo é conhecer detalhadamente os fatores associados ao meio ambiente e às mudanças climáticas que afetam a saúde humana.

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A pesquisa aborda três objetivos específicos:

  • Analisa os efeitos da poluição do ar proveniente de portos sobre as internações de crianças e idosos residentes em seu entorno;

  • Explora o efeito de uma política de conservação florestal sobre a saúde da população, principalmente dos idosos, e nas emissões de CO2;

  • Por último, a pesquisa analisa se os choques climáticos podem afetar o estado nutricional de crianças socioeconomicamente mais vulneráveis.

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Metodologia

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O estudo utilizou uma variedade de dados do Brasil. Para análise, foram desenhadas estratégias empíricas quase-experimentais adaptadas aos problemas da pesquisa, como o uso de variável instrumental e diferenças em diferenças (diff-in-diff). Os métodos quase-experimentais são métodos de avaliação de impacto que não dependem da seleção aleatória dos beneficiários para o tratamento, utilizando um contrafactual (um grupo que não recebeu o tratamento) para comparação.

A variável instrumental é uma ferramenta estatística usada dentro deste contexto para lidar com problemas de endogeneidade, onde a variável explicativa está correlacionada com o erro do modelo. Ou seja, quando a variável que estamos tentando estudar está relacionada com fatores que não podemos observar diretamente.

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Para a estimação de impacto, o método de variáveis instrumentais (VI) depende de alguma fonte externa de variação para determinar o status do tratamento. Por exemplo, no estudo que abordamos aqui, a variável instrumental é a atividade portuária, que não afeta diretamente o resultado de interesse. A atividade portuária impacta o nível de poluição, e é a poluição que, por sua vez, afeta a variável de interesse. Nesse contexto, a atividade portuária funciona como uma fonte exógena de variação, permitindo determinar o impacto da poluição na saúde.

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O modelo diff-in-diff compara as mudanças nos resultados ao longo do tempo entre um grupo que participa de um programa (o grupo de tratamento) e um grupo que não participa (o grupo de comparação). Por exemplo, para avaliar o impacto de um aumento de salários na produtividade em duas empresas semelhantes, mede-se a produtividade antes e depois do aumento em ambas as empresas (uma com o aumento e outra sem aumento). A diferença na mudança de produtividade entre as empresas revela o efeito do aumento de salários.

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Para atingir o primeiro objetivo foi utilizado dados de três fontes principais. As informações de hospitalizações foram Sistema de Internação do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS). Os dados do SIHSUS incluem o CEP de residência dos pacientes internados, a data de internação, a duração da internação, a idade do paciente, os gastos com a internação, o gênero e raça dos indivíduos, entre outras variáveis. Os dados de atividade portuária foram retirados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). A ANTAQ fornece informações sobre a data de atracação e desatracação de navios, a origem e destino das embarcações, e o volume de carga de cada navio por porto brasileiro. Já os dados de poluição do ar, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (IEMA). Essas agências coletam informações de hora em hora para vários tipos de poluentes por meio de diversos monitores.

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A análise empírica consiste em explorar a variação exógena quase aleatória de movimentação nos portos para estimar como a poluição do ar influencia a saúde humana. O que caracteriza essa variação como exógena é o fato de que a variável instrumental (movimentação nos portos) não afeta diretamente o resultado de interesse. Em outras palavras, a variável instrumental (movimentação nos portos) está correlacionada com a variável independente (poluição do ar) e não correlacionada diretamente com o resultado de interesse (saúde humana).

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Para alcançar o segundo objetivo, o efeito de uma política de conservação florestal sobre a saúde da população, novamente, os dados de internações foram coletados junto ao Sistema de Internação do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS). Além disso, foram utilizados dados de desmatamento do Mapbiomas. O Mapbiomas disponibiliza informações sobre a área desmatada em hectares por classe de desmatamento para todos os municípios brasileiros. Por último, os registros de emissões de CO2 foram consultados no Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Utilizou-se como estratégia de identificação (estratégia utilizada para estimar o efeito causal) as reduções acentuadas no desmatamento ao longo da Amazônia Legal, bem como a sua heterogeneidade espacial (a variação no nível de desmatamento entre os municípios da Amazônia Legal).

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Por fim, o último objetivo, que analisa a hipótese de que choques climáticos, ou seja, variações atípicas, podem afetar o estado nutricional de crianças socioeconomicamente vulneráveis, ainda está em desenvolvimento.

Resultados principais

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Resultados

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De forma breve, a pesquisa encontrou que a exposição à poluição do ar proveniente de portos está associada a uma maior probabilidade de internação por doenças do aparelho respiratório de bebês e idosos. O outro resultado mostrou que a redução no desmatamento, promovida por uma política de preservação florestal, gerou externalidade positiva na saúde dos idosos.

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A primeira parte da pesquisa avalia os efeitos da poluição atmosférica nas internações por doenças respiratória da população que reside nas proximidades dos portos (porto de Santos e de Vitória). Os resultados indicam que a combinação de níveis de atividade portuária, aumento na tonelagem e atracação adicional de navios eleva as concentrações de PM10 (Partículas de material particulado com diâmetro de 10 micrômetros ou menos) nas áreas próximas aos portos, o que, por sua vez, aumenta a probabilidade de hospitalizações por doenças respiratórias em grupos mais vulneráveis (bebês, crianças e idosos). Destaca-se que quanto maior o volume de movimentação portuária, maior a probabilidade de se observar consequências negativas na saúde da população que vive em seu entorno.

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A segunda parte da pesquisa investiga os benefícios da mitigação climática através das florestas à saúde humana. Para isso, analisa-se o efeito de uma política de conservação florestal nas emissões de CO2 e na saúde da população, especialmente dos idosos. A política de conservação resultou em uma redução no nível de desmatamento. As principais evidências indicam que a política de controle do desmatamento levou a uma redução na taxa de internações por doenças do aparelho respiratório entre os idosos. A análise de gênero apontou que a magnitude do efeito da política é maior para os homens em relação às mulheres. Além disso, a política também contribui para a mitigação climática, reduzindo as emissões de CO2, o principal gás de efeito estufa responsável pelo aquecimento global.

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Incidência em políticas públicas no Brasil 

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Os resultados da pesquisa são importantes para políticas públicas voltadas para o bem-estar da população e para as discussões acerca das mudanças climáticas. Contribuem para a compreensão dos problemas de saúde decorrentes de fatores relacionados ao meio ambiente e destacam a importância de ações para proteger, gerir de forma sustentável e restaurar recursos naturais que beneficiam a natureza e os indivíduos.

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Especificamente, o primeiro resultado permite considerar a possibilidade de tornar os portos mais sustentáveis, proporcionando ar mais limpo e, assim, mitigando os impactos negativos na sociedade. Políticas que visem reduzir as emissões de navios, por exemplo, podem beneficiar a população que vive ao redor dos terminais e causar menos impacto ao clima. Além disso, políticas de compensação poderiam ser consideradas, tanto para os indivíduos afetados quanto para o Sistema Único de Saúde (SUS), como por exemplo, investimento em infraestrutura e serviços de saúde nas áreas afetadas para lidar com o aumento da demanda por cuidados de saúde, programas de saúde pública focados em prevenção e educação sobre os efeitos da poluição do ar e alocação de parte das receitas fiscais geradas pelas atividades portuárias para financiar serviços de saúde pública nas áreas impactadas.

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O segundo resultado reitera a importância das florestas como sumidouros de carbono e de ganhos para a saúde humana. Evidencia que a mitigação das mudanças climáticas, por meio da preservação das florestas, pode trazer vantagens significativas para a saúde. As florestas desempenham um papel crucial na absorção de dióxido de carbono, ajudando a mitigar as mudanças climáticas ao reduzir a quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera. Além disso, preservação das florestas contribui para a melhoria da qualidade do ar, diminuindo a incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares.

 

Dessa forma, os resultados são relevantes para fomentar os debates sobre os esforços de controle do desmatamento. Eles sugerem que políticas e ações voltadas para a preservação das florestas não apenas ajudam a combater as mudanças climáticas, mas também promovem a saúde e o bem-estar das populações. Portanto, incentivar a conservação florestal pode ser visto como uma estratégia dupla, que combate o aquecimento global e melhora a saúde pública.

 

Para alcançar esses benefícios, é essencial que os formuladores de políticas implementem medidas robustas de proteção ambiental, como a criação de áreas protegidas, a fiscalização eficaz contra o desmatamento ilegal e o incentivo a práticas sustentáveis de uso da terra. Além disso, é fundamental promover a educação e a conscientização sobre os benefícios das florestas para a saúde e o clima, incentivando a participação ativa das comunidades locais e da sociedade em geral na preservação ambiental.

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​​Autores: Gerciana Rezende, Flávia Chein e Paula Pereda​

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