
O que são Desastres Naturais e quais as suas consequências
João Vitor Rocha, Juliano da Silva e Rafael Fraga
Universidade Federal de Juiz de Fora
19/09/24
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​Os desastres são resultantes de processos ligados à transformação e ao crescimento da sociedade, que reflete o modelo de desenvolvimento global e demais fatores socioambientais que criam vulnerabilidades sociais, como os efeitos das mudanças climáticas. Secas, chuvas intensas, tempestades, ondas de calor e frio, entre outros. Todos esses casos são consequências destes fatores que influenciam diretamente a rotina de uma população.​
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Eventos extremos (ou desastres) geram grandes impactos e, a partir de sua origem, podem ser classificados entre tecnológicos e naturais. De acordo com a Defesa Civil(1), os desastres tecnológicos são aqueles provocados por ações ou omissões humanas, como acidentes de trânsito, incêndios industriais ou contaminação de rios. Já os desastres naturais, são aqueles que ocorrem quando fenômenos da natureza, de grande intensidade, atingem regiões habitadas, muitas vezes agravados pelas atividades humanas.​
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Ao tentar entender, definir e classificar estes eventos, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) (2,3), passou a determinar “níveis de desastres” que levam em conta critérios qualitativos e quantitativos. Os critérios qualitativos são mais subjetivos, já os critérios quantitativos trazem uma avaliação mais objetiva. Por exemplo, desastres de ‘Nível I’ são aqueles que causam prejuízos menores, mais facilmente suportados pelas comunidades atingidas, ou que geram perdas de até 5% do PIB local.
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É importante destacar que esta classificação se estende até o nível IV de intensidade, que são aqueles onde o restabelecimento da situação de normalidade depende da mobilização e da ação coordenada dos três níveis do Sistema Nacional de Defesa Civil — SINDEC e, em alguns casos, da ajuda internacional.
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Criado para proteger a população e promover o desenvolvimento sustentável nas regiões mais afetadas, o Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil (PN-PDC) lançou recentemente um levantamento inovador por meio do Atlas Digital de Desastres, aprimorando o monitoramento de ocorrências no país. A nova plataforma corrige inconsistências presentes no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD) (4) e estabelece uma série histórica de desastres naturais no Brasil desde o ano de 1991.
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Por meio desse levantamento é possível realizar análises de ocorrências até os dias atuais, bem como realizar recortes temporais e determinar ciclos de interesse. Abaixo, uma série que vai desde o início do levantamento até o ano de 2022 marca o número de ocorrências por ano. Nela, podemos destacar os três últimos anos, que apresentaram um aumento acentuado após 2019. De certa forma, o crescimento repentino está diretamente relacionado ao avanço das mudanças climáticas em nível global e nacional.
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Em outro resultado importante, podemos observar que a Taxa de Variação da Média Anual dos Desastres na última década é o dobro daquela registrada nas duas décadas anteriores, ou seja, ajuda a confirmar a tendência de crescimento recente em relação aos registros.
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Conforme destacado na classificação de “Nível” do INPE, desastres naturais podem causar prejuízos significativos à economia local, chegando a comprometer uma parcela significativa do PIB e gerando danos insuperáveis e insuportáveis. Assim, o levantamento também traz informações sobre valores monetários que foram perdidos com cada um dos eventos registrados.
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De acordo com o Banco Mundial(5), parceiro do Atlas Digital de Desastres, entre 1995 e 2019, os danos causados por eventos extremos superam os R$300 bilhões em todo o Brasil, afetando diversos setores produtivos, seja por danos materiais ou perdas financeiras. Além disso, nos últimos 3 anos (2020, 2021 e 2022), o total de prejuízos, públicos e privados, apresentam valores nunca antes registrados. Em 2022, por exemplo, a série se aproxima dos R$70 bilhões, um valor 50% maior do que o ano anterior (cerca de R$45 bilhões) e quase o dobro do ano de 2020 (pouco mais de R$35 bilhões).
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De forma abrangente, os danos causados por desastres naturais são tão diversos que seus efeitos podem impactar desde as contas públicas e o “bolso” da sociedade, bem como o desenvolvimento humano de gerações futuras.
Podemos então questionar se a desigualdade regional no Brasil também não foi moldada por uma longa sequência de desastres naturais, como secas, estiagens, chuvas intensas, tempestades, incêndios florestais, variações bruscas do clima, etc. Essas ocorrências exerceram um papel significativo na perpetuação das disparidades socioeconômicas no país?
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Podemos concluir que o lançamento do PN-PDC como um instrumento norteador para a implementação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, abrangendo os 5 eixos da gestão de riscos e desastres (prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação), é extremamente necessário no amparo aos mais vulneráveis, seja a nível regional, municipal ou até mesmo individual.
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Referências​
1 - Coordenadoria de Defesa Civil do Estado (PR). <www.defesacivil.pr.gov.br/Pagina/O-que-e-um-desastre>
2 - Desastres Naturais: Conceitos Básicos. Silvia M. Saito. INPE <http://www3.inpe.br/crs/crectealc/pdf/silvia_saito.pdf>
3 - Desastres Naturais E Geotecnologias: Conceitos Básicos. Emerson Vieira Marcelino. INPE. São José dos Campos.
<http://mtc-m16c.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m18@80/2008/07.02.16.22/doc/publicacao.pdf>
4 - Plano Nacional de Proteção da Defesa Civil.
5 - Relatório de Danos Materiais e Prejuízos Decorrentes de Desastres Naturais no Brasil. Banco Mundial. 2020.



