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Educação técnica no Brasil: Oportunidades e Desafios

O estudo tem como objetivo analisar a relação entre a educação técnica e o mercado de trabalho, investigando como essa formação está associada à renda, às oportunidades de emprego e às condições de trabalho, comparando-a com outras modalidades de ensino.

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A Educação Profissional Técnica (EPT) de nível médio é frequentemente promovida como uma política eficiente para alinhar a formação dos jovens às demandas do mercado de trabalho, proporcionando uma preparação prática e direcionada. Em um cenário onde muitos egressos do ensino médio enfrentam dificuldades de inserção, essa qualificação se apresenta como uma alternativa viável para capacitar indivíduos em ocupações técnicas especializadas, respondendo à crescente demanda por profissionais qualificados.

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No Brasil, a EPT de nível médio, regulamentada pela Lei n.º 11.741/2008, integra o sistema de educação profissional e tecnológica, que abrange desde a formação inicial até cursos de graduação e pós-graduação. Essa modalidade pode ser oferecida de maneira integrada ao ensino médio, concomitante ou subsequente, com instituições como o Sistema S (SENAI, SESI, SENAC, SESC) desempenhando um importante papel na formação técnica para diversos setores da economia. Como forma de potencializar esses benefícios, o governo brasileiro tem investido em políticas públicas como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), voltado especialmente para jovens e trabalhadores de setores em transformação.

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Contudo, embora a educação técnica desenvolva competências valorizadas pelo mercado e facilite a inserção profissional, ainda há dúvidas sobre seus benefícios a longo prazo. Essa discussão ganha ainda mais relevância em um mercado cada vez mais competitivo, onde uma qualificação técnica pode ser tanto um diferencial quanto uma limitação, dependendo das mudanças nas demandas profissionais. Afinal, vale mais a pena investir em um curso técnico ou seguir outros caminhos educacionais? A resposta pode definir não só o futuro dos jovens, mas também a eficácia das políticas públicas de educação e emprego.

 

A pesquisa se divide em quatro objetivos principais:

  • Analisar a evolução e características da educação técnica no Brasil, incluindo tendências de participação, perfil dos estudantes e modelos institucionais;

  • Comparar a inserção no mercado de trabalho entre profissionais com formação técnica e outros níveis de ensino, analisando taxa de empregabilidade, formalização e rendimentos;

  • Investigar as diferenças nos indicadores de mercado de trabalho e nas trajetórias de acesso e permanência no ensino superior entre alunos que concluíram e os que abandonaram cursos técnicos;

  • Identificar as vantagens profissionais da combinação entre formação técnica e ensino superior.

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Metodologia 

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Para analisar a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Brasil, esta pesquisa utiliza os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). O foco recai em indivíduos com idades entre 16 e 75 anos, no período de 2016 a 2023, excluindo os anos de 2020 e 2021, devido à ausência de dados educacionais.

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A investigação compara indivíduos com três diferentes níveis de escolaridade máxima: (i) ensino médio completo; (ii) EPT de nível médio; e (iii) ensino superior completo. Dentro da categoria de educação técnica, a análise destaca a comparação entre concluintes e não concluintes, sendo estes últimos definidos como indivíduos que iniciaram mas não finalizaram seus cursos técnicos.

A metodologia adota uma abordagem descritiva, baseada em estatísticas de tendência central, dispersão e distribuição, sem pretensões causais ou preditivas. Seu desenvolvimento estrutura-se em quatro dimensões: (i) caracterização da população-alvo; (ii) comparação sistemática entre subgrupos; (iii) elaboração de indicadores estratificados por perfil demográfico; e (iv) análise da evolução de diferentes indicadores ao longo do tempo.

 

Resultados Principais 

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No Brasil, os cursos técnicos têm registrado crescimento contínuo nas matrículas nos últimos anos. No entanto, a partir de 2019, observa-se uma queda acentuada nas taxas de conclusão, o que sugere problemas na retenção de estudantes ou nas condições de oferta desses cursos. Quanto ao perfil dos estudantes, predomina a modalidade cursada após a conclusão do ensino médio, enquanto a modalidade concomitante, menos frequente, concentra suas matrículas principalmente em instituições distintas daquelas em que os alunos realizam o ensino médio. No que diz respeito ao tipo de instituição, a maioria dos estudantes frequenta escolas públicas, ao passo que o Sistema S atende uma parcela menor. 

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O período de 2016 a 2023 revela uma dualidade no mercado de trabalho brasileiro, onde a expansão do emprego total contrasta com a regressão na formalização em todos os níveis educacionais. Nesse cenário, a formação técnica ocupa uma posição intermediária: supera consistentemente o ensino médio em formalização, empregabilidade e rendimento, mas não alcança os patamares do ensino superior nos dois últimos aspectos. Essa hierarquia também se reflete na jornada de trabalho, em que os técnicos lideram em horas trabalhadas, enquanto os profissionais graduados desfrutam de jornadas mais curtas.

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Os dados revelam uma crescente polarização dentro da própria categoria técnica: se por um lado uma parcela dos trabalhadores mais experientes alcança rendimentos satisfatórios, por outro, muitos enfrentam estagnação salarial. Essa desigualdade interna, que vem se acentuando desde 2016, criou dois extremos dentro do grupo, dividindo os técnicos entre os que conseguiram ascender profissionalmente e os que permaneceram presos a piores condições trabalhistas.

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Ao comparar profissionais que concluíram cursos técnicos com aqueles que interromperam a formação e ficaram apenas com o ensino médio, nota-se uma maior inserção no mercado formal e salários significativamente mais altos entre os concluintes. Essa diferença reflete diretamente a valorização do diploma técnico pelo mercado, oferecendo aos concluintes acesso a cargos melhor remunerados. Por outro lado, aqueles que abandonaram a formação técnica tendem a permanecer em funções mais elementares, com perspectivas limitadas de progressão profissional.

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As estatísticas mostram que a conclusão do curso técnico está associada não apenas a melhores indicadores no mercado de trabalho, mas também a trajetórias educacionais mais consistentes. Quem termina essa formação tem maior probabilidade de ingressar no ensino superior e menor risco de abandonar a faculdade. Essa vantagem se estende à fase profissional: mesmo entre aqueles com ensino superior, os que têm formação técnica prévia conquistam remunerações médias superiores, demonstrando o valor cumulativo das duas qualificações.

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Incidência em Políticas Públicas no Brasil

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Os resultados da pesquisa evidenciam que a Educação Profissional Técnica (EPT) de nível médio apresenta vantagens em indicadores laborais, garantindo maior acesso ao emprego formal e melhores remunerações. Em contraste com o ensino superior, porém, persistem desafios como jornadas de trabalho mais longas, além de menor empregabilidade e renda.

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Essa dualidade, no entanto, aponta para uma oportunidade estratégica. Os dados demonstram que os concluintes do ensino técnico não apenas ingressam com mais frequência na faculdade, como também apresentam menor evasão universitária. Isso abre espaço para políticas públicas que deixem de tratar o ensino técnico como um fim em si mesmo e o integrem à graduação. A criação de sistemas de créditos compatíveis e cursos de nivelamento poderia facilitar essa articulação, ampliando as oportunidades para os egressos da formação técnica.

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Para fortalecer esse caminho, três eixos de ação se mostram prioritários: i) garantir a permanência dos jovens na educação profissional através de um sistema de apoio estudantil, contemplando bolsas de permanência, tutoria especializada e suporte financeiro; ii) aproximar instituições de ensino e empresas, alinhando currículos às demandas do setor e ampliando as oportunidades de estágio; iii) enfrentar as assimetrias entre profissionais técnicos experientes por meio de um sistema contínuo de capacitação, garantindo a atualização permanente de competências e combatendo a obsolescência tecnológica da força de trabalho.

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Essas medidas ganham ainda maior relevância quando compreendemos que investir na educação técnica é investir no futuro do país. Mais do que uma alternativa imediatista, essa formação constitui a base para o desenvolvimento profissional. Nessa perspectiva, ela deve ser vista não como um “plano B”, mas como peça chave de um sistema educacional integrado, em que cada etapa prepara para a próxima, impulsionando tanto o crescimento individual quanto a competitividade da economia brasileira.

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Texto: Sinara​ da Silva Anastácio

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