
Quais são os Desastres Naturais mais comuns no Brasil?
Juliano da Silva e Rafael Fraga
Universidade Federal de Juiz de Fora
02/10/24
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No Brasil, a maioria dos desastres naturais estão diretamente relacionados às variações de chuvas e temperatura, refletindo a complexa interação entre fatores climáticos e geográficos do país. Conforme a tipologia adotada pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) (1), os eventos são divididos em cinco categorias: climatológicos, hidrológicos, meteorológicos, geológicos e biológicos.
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De acordo com o Atlas Digital de Desastres Naturais (2), de 1991 a 2022, 50,1% das ocorrências foram de caráter Climatológico, seguido dos registros Hidrológicos (27,81%) e Meteorológicos (18,09%). Já os registros Geológicos e Biológicos, em conjunto, somaram cerca de 4% dos registros. No total, cerca de 96% das ocorrências no período foram pertencentes às três principais categorias.
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Cada categoria possui suas particularidades, como seus tipos e subtipos de ocorrências. Abaixo, encontram-se as definições, classificações e exemplos dos desastres naturais mais comuns no Brasil:
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1. Desastres Climatológicos
Os desastres climatológicos estão relacionados às condições climáticas de uma determinada região, que podem variar de extremos de umidade a secas prolongadas. Os principais exemplos incluem:
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Estiagem: Trata-se de um período prolongado de baixa precipitação ou ausência de chuvas, no qual a perda de umidade do solo supera sua reposição. Este fenômeno impacta diretamente a agricultura, a pecuária e os recursos hídricos de uma região.
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Seca: Embora a seca seja conceituada como uma estiagem prolongada, seu efeito é ainda mais severo. A falta de precipitações por um período suficientemente longo resulta em desequilíbrios hidrológicos, com impactos profundos sobre a oferta de água, a produção agrícola e o abastecimento das populações.
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Incêndio Florestal: A propagação descontrolada de fogo em vegetações naturais ou áreas protegidas também se classifica como um desastre climatológico, quando desencadeado por condições climáticas adversas, como calor extremo e baixa umidade. Os incêndios causados intencionalmente ou acidentalmente por seres humanos não são classificados como desastres naturais, sendo considerados acidentes ou crimes ambientais.
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De acordo com o decreto que declarou situação de emergência nos municípios do Rio Grande do Norte (DECRETO Nº 26.365/16), foi revelado que, entre 2012 e 2016, o estado passou por uma seca severa que durou cerca de 5 anos (3). No evento, 153 dos 167 municípios se encontravam em situação de emergência, apresentaram um quadro de falta d’água nos reservatórios públicos e privados. Prejuízos diversos foram registrados decorrentes da falta de chuva, como o montante de mais de 4 bilhões em prejuízos no setor agropecuário, o que representava 50% da contribuição do setor rural no PIB do RN, refletindo negativamente na infraestrutura física dos diversos municípios.
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2. Desastres Hidrológicos
Os desastres hidrológicos estão diretamente associados aos impactos das precipitações para o meio natural e urbano. Entre os principais tipos de desastres desta categoria, destacam-se:
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Alagamentos: Resultam da sobrecarga dos sistemas de drenagem urbana, frequentemente causada por chuvas intensas, levando ao acúmulo de água em áreas urbanizadas, como ruas e calçadas, prejudicando a mobilidade e causando danos materiais.
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Enxurradas: Caracterizam-se pelo rápido escoamento superficial da água das chuvas, provocado por precipitações intensas e concentradas, normalmente em pequenas bacias de relevo acidentado. Caracterizadas pela elevação súbita das vazões de determinada drenagem e transbordamento brusco da calha fluvial, apresenta grande poder destrutivo.
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Inundações: Ocorrem quando o transbordamento de cursos d’água submerge áreas que normalmente não são atingidas. Diferente das enxurradas, as inundações tendem a ocorrer de forma gradual, sendo comuns em áreas de planície durante períodos prolongados de chuvas.
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Um dos desastres hidrológicos no Brasil de grande notoriedade foram as chuvas de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro, particularmente, nas cidades de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e Sumidouro. As intensas precipitações causaram enxurradas causando deslizamentos de terra, resultando em 865 óbitos e 342 desaparecidos, conforme dados do Atlas Digital de Desastres Naturais.
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De forma mais recente, outra ocorrência significativa deste tipo de desastre foi registrada no Rio Grande do Sul em 2024. O estado sofreu com chuvas extremas que ocasionaram alagamentos, enxurradas e inundações que atingiram 478 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, afetando aproximadamente 2,4 milhões de pessoas e deixando mais de 4 mil desalojados, 173 mortos e 38 desaparecidos (4).
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3. Desastres Meteorológicos​
Os desastres meteorológicos são causados por fenômenos atmosféricos de alta intensidade e baixa previsibilidade, desencadeados por tempestades e temperaturas extremas. Entre os eventos mais comuns no Brasil, registram-se:
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Granizo: Precipitação de fragmentos de gelo que, de acordo com sua intensidade, pode causar graves danos a plantações, veículos e construções.
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Ondas de Frio: Período em que a temperatura mínima do ar cai significativamente abaixo dos valores esperados para uma determinada região e estação do ano. Quando prolongada, pode acarretar geadas, impactando a produção agrícola e afetando a saúde da população vulnerável.
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Tornados: Colunas de ar em rotação que entram em contato com a superfície terrestre, causando danos severos às áreas atingidas. Apesar de serem mais frequentes em outros lugares do mundo, tornados também têm sido registrados no Brasil.
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Vendavais: Fortes deslocamentos de massas de ar que podem causar destruição em áreas urbanas e rurais, derrubando árvores, postes e telhados.
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Em 15 de outubro de 2021, um vendaval ocorrido no Mato Grosso do Sul, de acordo com a defesa civil do estado, foi classificado como um desastre Meteorológico (5)(6). Na ocasião, Ponta Porã e outros 17 municípios do estado foram atingidos por ventos que chegaram aproximadamente a 100 km/h, desencadeando uma tempestade de poeira chamada “haboob”, resultando no destelhamento de casas, queda de árvores e postes de energia elétrica, deixando milhares de pessoas sem luz.
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A partir das informações do Atlas Digital de Desastres, o município de Ponta Porã registrou 5 óbitos, 100 desaparecidos e 300 desalojados, além de um prejuízo total de aproximadamente 1,8 bilhões de reais.
Por fim, de acordo com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC), as ocorrências das mudanças climáticas, os padrões de desenvolvimento e diversas outras estatísticas, o registro de desastres também possui padrões regionais.
Por meio do mapeamento abaixo, é possível observar que enquanto as ocorrências de desastres Hidrológicos têm forte ligação com a região Norte, desastres Climatológicos se localizam no Nordeste. Por sua vez, a ausência de ocorrências de desastres se concentra na região central do mapa, onde o padrão climático aponta para um maior equilíbrio.
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De acordo com a Figura 2, os desastres naturais no Brasil seguem determinados padrões regionais, o que sugere a necessidade de políticas públicas adaptadas às peculiaridades locais. A vulnerabilidade às mudanças climáticas impõem desafios crescentes à sociedade, demandando ações integradas para mitigação e adaptação, de forma a reduzir os impactos sociais, ambientais e econômicos dos desastres naturais.
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Através de uma gestão de riscos aprimorada e do fortalecimento dos sistemas de alertas, é esperado que o Brasil possa mitigar os efeitos desses eventos extremos, preservando vidas e reduzindo os danos. A compreensão da tipologia dos desastres naturais é essencial para o planejamento urbano, a gestão de recursos hídricos e a implementação de estratégias de adaptação às mudanças climáticas, uma vez que os padrões de precipitação e eventos extremos tendem a se intensificar nos próximos anos.
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Referências:
1 - Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional
2 - Atlas Digital de Desastres no Brasil < Atlas (mdr.gov.br)>
3 - Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte < Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte (diariooficial.rn.gov.br)>
4 - Senado Federal < Tragédia no RS mostrou que Brasil precisa se preparar para mudanças no clima — Senado Notícias>
5 - Agência de Notícias do Governo de Mato Grosso do Sul < Defesa Civil faz levantamento de estragos causados por tempestade de poeira e vendaval nos municípios de MS – Agência de Noticias do Governo de Mato Grosso do Sul (agenciadenoticias.ms.gov.br)>
6 - Agência de Notícias do Governo de Mato Grosso do Sul <Reinaldo Azambuja cria força-tarefa para apoiar municípios e restabelecer energia elétrica após temporais – Agência de Noticias do Governo de Mato Grosso do Sul (agenciadenoticias.ms.gov.br)>​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​

