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fogo florestal

Desastres Climatológicos e sua ocorrência no Brasil

Juliano da Silva e Rafael Fraga

Universidade Federal de Juiz de Fora

23/10/24

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Estiagem, Seca, Incêndios Florestais e Baixa umidade do ar. De acordo com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC), estes são os quatro tipos de Desastres Climatológicos caracterizados por baixos índices de precipitação. Essa afirmação faz parte do conjunto de definições que auxiliam na Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE), determinação que identifica as ocorrências de desastres de acordo com suas peculiaridades. 

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De forma breve, a Estiagem pode ser definida pelo período prolongado de baixa ou nenhuma pluviosidade, em que a perda de umidade do solo é superior à sua reposição (Figura 1). Já a Seca, por sua vez, é uma estiagem prolongada durante o período de tempo suficiente para que a falta de precipitação provoque grave desequilíbrio hidrológico. Além disso, por serem estágios diferentes do mesmo fenômeno, ambos os casos costumam estar espacialmente correlacionados (Figura 2).

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​​No caso da Estiagem, a incidência está ligada diretamente ao semiárido nordestino, se estendendo do norte de Minas até o norte do Ceará, passando por todos os estados da Região Nordeste com diferentes níveis de ocorrência. Além disso, ainda para o caso da Estiagem, devem ser destacadas as ocorrências na região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, e na Região Norte, no Amazonas. Essas duas regiões são, historicamente, distintas entre si e em relação ao Nordeste, porém também sofrem com os baixos índices pluviométricos. No norte, onde boa parte da população é “ribeirinha”, a redução de chuvas em relação à média da região pode gerar impactos imensuráveis à população. ​

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Esse cenário também se repete parcialmente para o caso da Seca, contudo conta com algumas particularidades. Apesar da presença em torno do semiárido, existem concentrações de registros de seca no norte de Minas Gerais e nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, região conhecida como Nordeste Setentrional, desfavorecida pelos movimentos de massa de ar que causam as chuvas nas regiões centrais do país, Centro-Oeste e Sudeste.  

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Diferente dos dois casos anteriores, os Incêndios Florestais surgem devido à propagação de fogo sem controle, seja em qualquer tipo de vegetação situada em áreas legalmente protegidas ou em qualquer tipo de vegetação que não se encontre em áreas sob proteção legal, acarretando queda da qualidade do ar. Sua distribuição não está espacialmente relacionada às ocorrências de Estiagem e Seca. Apesar da falta de precipitação ser o principal determinante para o aumento do risco de queimadas, a falta de chuva geralmente não é duradoura.

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É importante destacar que pode haver uma diferença considerável no que está sendo noticiado recentemente, com focos de incêndios por todo o Brasil, e os dados sendo apresentados pelo mapa. Os impactos ambientais citados apenas são considerados  desastres (naturais ou tecnológicos), quando os seus danos e prejuízos são incalculáveis e de difícil restituição. Caso não possua danos ou ocorra em áreas não ocupadas, o fenômeno é considerado apenas um evento natural. Ou seja, alguns registros de incêndios não estão sendo registrados neste levantamento, caso não atendam aos critérios de classificação mencionados. Além disso, o levantamento não cobre o ano de 2024, quando espera-se um aumento nos registros de incêndios florestais de forma geral. Dentre os anos analisados, 1991 a 2022, as ocorrências se concentraram na região Centro-Oeste, com destaque para o Mato Grosso (Figura 3). Outro ponto a ser destacado é que ainda não há a possibilidade de determinar a origem destes incêndios, que podem ser criminais.

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Caracterizada pela queda da taxa de vapor de água suspensa na atmosfera para níveis inferiores a 20% da média local, a Baixa Umidade é o último tipo de desastre Climatológico a ser explorado. São causadas, principalmente, por variações em massas de ar quente (oriundas de mudanças climáticas intensas) e altos níveis de degradação ambiental (como ocorrem com os incêndios). Em sua relação com os Incêndios Florestais, a Baixa Umidade estabelece uma via de mão dupla, podendo ser causa e efeito destes.

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Danos e Prejuízos, Financeiros e Humanos

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Entre todos os grupos de Desastres Naturais, o Grupo Climatológico é aquele que apresenta a maior média de perdas anuais per capita. A região mais afetada por seus efeitos é, sem dúvida, a Nordeste, especialmente os Estados da Paraíba e do Piauí, ambos integrantes da região Setentrional. Em relação às perdas anuais do PIB, assim como os valores per capita, os estados da Paraíba (0,94%) e do Piauí (1,03%), seguidos também pelo Ceará (0,60%), foram os que mais registaram perdas. No Brasil, entre 1991 e 2022, danos e prejuízos ligados a desastres Climatológicos superaram 200 bilhões de reais no total, mais de 60% de todo prejuízos gerado por desastres. 

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Os prejuízos estão ligados fortemente à agricultura, pecuária e ao abastecimento de água, e podem gerar danos que se estendem durante um longo período. Com isso, diversos estudos já elucidam a relação entre problemas nutricionais e de desenvolvimento humano, devido às perdas causadas pelas diferentes manifestações de desastres Climatológicos descritos até aqui. Desta maneira, fomentar políticas que ajudam a mitigar os efeitos da incidência da Estiagem, Seca, dos Incêndios Florestais e da Baixa umidade do ar, torna-se fundamental dentro de uma ótica mais expandida e não puramente econômica, abarcando também o combate à desigualdades sociais.

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Referências:

Relatório de Danos Materiais e Prejuízos Decorrentes de Desastres Naturais no Brasil. Banco Mundial. 2020.

<https://www.gov.br/mdr/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/protecao-e-defesa-civil-sedec/danos_e_prejuizos_versao_em_revisao.pdf>

Agência Nacional de Águas.

<https://www.gov.br/ana/pt-br>

Atlas Digital de Desastres no Brasil.

< Atlas (mdr.gov.br)>

Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.

<https://www.gov.br/mdr/pt-br/composicao/secretarias-nacionais/protecao-e-defesa-civil>

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Figura 1 - Distribuição Espacial das Ocorrências de Estiagem (1991-2022)

 Fonte: Elaborado pelos autores com base no Atlas Digital dos Desastres

Figura 2 - Distribuição Espacial das Ocorrências de Secas (1991-2022)

 Fonte: Elaborado pelos autores com base no Atlas Digital dos Desastres

Figura 3 - Distribuição Espacial das Ocorrências de Incêndios Florestais

 Fonte: Elaborado pelos autores com base no Atlas Digital dos Desastres

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